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Nova revolução

01.11.2017
Mercado
A era da manufatura avançada, ou indústria 4.0, já está em curso. E, na serra, a adaptação anda devagar.
 
 
Automação em curso.
Controlados por humanos, robôs já estão sendo colocados nas indústrias para desempenhar funções em trabalhos pesados e insalubres
 
Robôs na linha de produção, coleta e análise de dados para a tomada de decisões, peças feitas em impressoras 3D, conectividade entre as máquinas. Esses são apenas alguns dos cenários que começam a estar cada vez mais presentes nas fábricas de todo o mundo. A chamada Indústria 4.0, também conhecida como manufatura avançada, inaugura uma nova etapa no setor produtivo. No Brasil e, por tabela, na Serra a adaptação à essa realidade vem a passos lentos.
Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizada com 2,2 mil companhias mostra que menos da metade delas utiliza alguma tecnologia digital, como automação sem sensores, utilização de serviços em nuvem ou incorporação de serviços digitais nos produtos. O custo de implantação das medidas é considerado o principal obstáculo. Outras barreiras que aparecem, segundo as companhias, são a falta de clareza sobre o retorno do investimento e a própria cultura da empresa.
O conceito 4.0 é um caminho sem volta para a indústria e influirá diretamente na produtividade e na competitividade dos produtos feitos na Serra. O coordenador do Grupo de Trabalho de Inovação do Arranjo Produtivo Metalmecânico e Automotivo da Serra, Marcio Chiaramonte, acredita que alguns avanços foram ocorrendo naturalmente nos últimos anos. O desafio agora é avançar em questões cruciais, como o big data e a internet das coisas.
 
– Vai se tornar imprescindível (a adaptação à Indústria 4.0). Se não, vamos virar tudo fornecedores de segunda categoria – alerta.
 
Em Caxias do Sul, as maiores empresas já começam a fazer simulações em ambientes virtuais e a introduzir robôs na linha de produção. As indústrias de grande porte são aquelas que estão mais à frente na adoção de tecnologias, ainda que estejam atrás da realidade vivida nos Estados Unidos e na Europa.
 
Entendimento das etapas
A Randon Implementos se encontra em fase de entendimento de cada etapa exigida pela Indústria 4.0, conforme relata o diretor de Tecnologia e Inovação, Sandro Trentin. Na empresa, o uso de ferramentas tecnológicas já é visível em algumas atividades. Há um ano, a empresa começou a utilizar um sistema que consegue simular no computador a disposição dos equipamentos nas fábricas, verificar o tempo que se leva para montar um produto e até identificar eventuais falhas.
Com esse software, a companhia conseguiu aumentar a produtividade em determinados segmentos, como o de basculantes. Após verificar um problema em um detalhe na linha produtiva e corrigi-lo, a empresa fez o volume de peças feitas por dia passar de 10 para 15. O próximo passo a ser tomado, em 2018, será o uso da realidade aumentada, permitindo com que as pessoas, usando um óculos, se sintam dentro da fábrica para tomar decisões.
Outro aspecto que chama a atenção é o uso de robôs no chão de fábrica, em áreas como soldagem, dobragem de peças e pintura.
 
– Dobramos o número de robôs nos últimos dois anos. E o plano é dobrar novamente – relata Trentin.
 
Na fabricante de implementos rodoviários, a maior parte dos robôs faz solda, dividindo espaço com 600 soldadores.
 
A transformação do trabalho nas fábricas
A crescente automação dos processos industriais acaba se refletindo no tipo de trabalho realizado nas fábricas. Uma série de funções está deixando de existir, enquanto novas atividades surgem e outras tantas ainda deverão ser criadas. E a perspectiva é de que as modificações sejam constantes no caminho rumo à manufatura avançada.
Industriais caxienses acreditam que a tendência, no futuro, é de que as empresas contem com menos funcionários. Os cargos deverão ser mais estratégicos do que braçais. No caso de Caxias, com forte base metalmecânica, a perspectiva é de que robôs assumam tarefas como pintura e solda, algo que já começa timidamente a ocorrer. No entanto, a transição deve ser lenta. Isso porque muitas companhias ainda estão com alta ociosidade. A recessão fez com que 20 mil postos de trabalho fossem encerrados e o investimento despencasse
 
– Se fala muito da Indústria 4.0, mas se implementa pouco. Vivemos uma queda de demanda, de faturamento, e isso desestimula os investimentos – analisa Reomar Slaviero, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs).
 
Um dos principais responsáveis pela formação de mão de obra, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) está adaptando seus cursos para atender às novas demandas de mercado. O diretor do Instituto Senai Mecatrônica de Caxias do Sul, Fabricio Campana, relata que os conceitos ligados à Indústria 4.0 vão ser assimilados na mesma velocidade em que as empresas se adaptarem.
 
– A Indústria 4.0 vai acontecer aos poucos, não é da noite para o dia. É uma tendência de mercado, mas hoje não adianta formar um técnico 4.0 se a indústria ainda não é 4.0 – destaca.
 
Campana acredita que a automação modifica a força de trabalho das empresas, mas que ela não necessariamente trará redução no nível de emprego.
 
– Existe uma mudança de perfil. A automação tira o ser humano de processos insalubres, mais repetitivos, e isso é benéfico. O profissional vai ter que se qualificar mais. Em vez de comandar máquina, vai ter que programá-la.
 
Com capacitação em diferentes áreas da indústria, o Senai costuma formar de 2 mil a 3 mil profissionais por ano em Caxias do Sul.
 
Linha do tempo industrial
 
Mercopar abordará os desafios 4.0
 

Inovação na pauta Moreira diz que Mercopar quer desmistificar conceitos
 
Os desafios gerados pelo conceito de Indústria 4.0 serão abordados durante a Feira de Subcontratação e Inovação Empresarial (Mercopar) deste ano, que acontece de 3 a 6 de outubro, em Caxias do Sul. Durante o evento, os visitantes poderão conferir como funciona uma fábrica avançada no uso de tecnologias. Dentro do Salão da Inovação, ocorrerão oficinas sobre temas como inteligência artificial, big data e futurismo.
 
– A inovação, na Indústria 4.0, não são propriamente as tecnologias, mas sim o agrupamento dessas diferentes soluções. No salão, vamos trabalhar alguns conceitos como manufatura digital, robótica colaborativa e sensoriamento – destaca Gustavo Moreira, gerente de inovação, mercado e serviços financeiros do Sebrae-RS, um dos organizadores da Mercopar.  
 
Durante o evento também está prevista a realização de um campeonato de inovação, no qual startups e empresas serão desafiadas a gerar soluções para três grandes marcas: Nissan/Renault, Intercement e Grendene. Outra atração será o Desafio de Robôs, em que diferentes equipes terão de trabalhar cenários envolvendo a automação de uma fábrica.
Apesar de o debate sobre a Indústria 4.0 ter começado em 2011, será neste ano que a Mercopar tratará o tema de forma mais destacada pela primeira vez. Em 2016, houve uma exposição de máquinas 4.0.
 
– No ano passado, foi mais exposição, agora vamos tocar mesmo na ferida – compara Moreira.
 
Na edição deste ano, a Mercopar deve contar com mais de 230 expositores de diferentes Estados brasileiros e do Exterior. O número está abaixo dos 300 representantes que marcaram presença em 2016. A organização espera receber 16 mil pessoas ao longo dos quatro dias de atividades. Não há projeção sobre o volume de negócios que poderá ser gerado. Na temporada passada, foram encaminhados R$ 48,5 milhões em transações.
 
Reportagem original: Fernando Soares – Pioneiro Serra
Pioneiro Serra
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